segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Choque e espanto

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Despertei com as primeiras luzes. Olho, nostálgico, a cidade que se ergue fatigada à minha frente. À minha volta um tumulto de gente, rindo e gritando e gesticulando, movendo fardos, arrastando animais. Há gente à sombra, outros dormem estendidos de bruços na poeira.

E, no entanto, este lugar é o meu país. Um país que me surpreende todos os dias. Inquieta-me menos o meu destino do que esta espera angustiante pela chegada da liberdade. Mas enfim, é realmente verdade que não temos escolha. É verdade que as liberdades e defesa dos direitos cívicos custaram, ao longo dos séculos, vidas e privações.

No século XX, o nosso país viveu quase sempre num misto de ditadura e, depois, de democracia musculada. Uma das piores recordações que guardo desse tempo é a de um país atrofiado em cidadania, vegetando sob o signo da mediocridade; um reino de perseguições, onde uma palavra ou um carimbo da polícia do regime selavam destinos e marcavam vidas.

Com menos de meio século de vida, já passei por muito: a prisão, a tortura, o quebrar dos ossos, a invasão da privacidade, a violação da correspondência, a perseguição da polícia, a censura; enfim, a ausência efectiva das liberdades elementares. Até quando?

António Aly Silva