terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Bissau, madrugada de 27 de dezembro, terça-feira

Bissau adormece fatigada, menos fria (e falo do tempo). Estou a chegar a casa, depois de umas voltas, hoje muito limitadas pelos acontecimentos que se desenrolaram ontem. Até agora, está tudo calmo, parace até que toda a gente se mudou da capital para o interior. Mas há vultos na noite.

Há vultos como que amontoados, ha murmúrios nesta noite. Quase não circulam carros, e não há, ao contrário de outras noites, fogareiros a crepitar, nem gargalhadas cúmplices e menos ainda namoricos nas esquinas escuras. Mas há vultos nesta madrugada que ainda é uma criança.

Andei por ai, às voltas, e ninguém me importunou. Ninguém se importou sequer com a minha presença. Passei despercebido. Senti o silêncio da cidade, um silêncio que ensurdece. E eu ali às voltas. Devagar até para o meu gosto. Serei invisivel? Não. Apenas não me tomaram como uma ameaça.

Estou já em casa. Apetece-me chorar, gritar a plenos pulmões, gesticular e dizer: chega!, basta! Párem de sobressaltar este povo, esta gente humilde. Tenham vergonha deste povo e deste País que amanhã os vossos filhos e netos herdarão. Boa noite a todos. Antonio Aly Silva