quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sujeitos & Assuntos, S.A.


General António Indjai, líder dissimulado, depois assumido, do golpe de Estado – É corrente em Bissau uma versão, mais consistente que outras, segundo a qual “ decidiu” levar a cabo um golpe de Estado, o de 12.Abr, quando uns generais nigerianos e burkinabes (AM 640), dos quais havia passado a ser amigo, lhe garantiram que Carlos Gomes Jr (Prutchi, como pejorativamente o tratam), uma vez eleito Presidente da República, o iria demitir e pôr no seu lugar o antigo CEMG, Zamora Induta.

Não podiam ter dito nada que provocasse nele alvoroço tão angustiante. Odeia Zamora Induta. Não o considera um verdadeiro balanta (pai balanta, mãe papel), nem tão pouco um “combatente da liberdade da pátria” – atributo que ainda distingue os guineenses. Só ingressou na vida militar em 1986, passados que eram já 12 anos sobre o fim da luta de libertação. Vive igualmente dominado pelo pressentimento de que o ex-CEMG um dia ajustará com ele contas por o ter traído, através de um motim, em 01.Abr.2010 (a sua primeira experiência sediciosa) e tomado o lugar.

Até aos seus “fatídicos” contactos com os generais nigerianos e às mudanças que começaram a ser registadas no seu comportamento, C Gomes Jr depositava suficiente confiança na lealdade do CEMG. Conjectiurava-se que tendo o mesmo, no seu activo, a autoria de um golpe anterior, o de 01.Abr.2010, e tendo escapado por um triz às consequências do acto, seguramente não se lançaria em semelhante “aventura”. Mas valia o que valia (pouco) a conjectura. Pesaram mais traços de carácter do CEMG como a sua inconstância e falta de firmeza das suas convicções – lacunas que normalmente colmata com públicos pedidos de desculpa.

Bubo Na Tchuto, hoje libertado, é o outro objecto dos seus ódios e temores. Neste caso por que vê nele um rival completo. É um balanta “de gema”, combatente da liberdade da pátria e, ao que se diz, militar valoroso. Nenhum teve tempo ou oportunidade para se evidenciar na luta de libertação (não passaram de guerrilheiros iniciados...), mas parece que, mesmo assim, Bubo Na Tchuto foi mais notado pela suas habilidades como “bazuqueiro” (compartilhadas com as de “tabanqueiro”). O medo que Bubo Na Tchuto toda a vida lhe inspirou tinha origens de fácil enunciação: era o comandante (e tinha na mão) a melhor unidade das FA – os Fuzileiros; gozava de aceitação e prestígio entre os balantas; tinha dinheiro (alegadamente proveniente da droga) e um estilo de vida cuja ostentação causava admiração.

Em 26.Dez.2011, sendo Bubo Na Tchute CEM da Marinha, mandou prendê-lo e exonerá-lo, juntamente com outros oficiais próximos. E ali estava preso, em Mansoa, quando o golpe de 12.Abr ocorreu. Kumba Yalá, que o tem como aliado, logo moveu pressões no sentido da sua libertação. Foi, de facto, libertado. Mas não tardou a voltar à cadeia por ordens expressas do “chefe” do golpe; deve ter sido por ter pressentido que estava a dar asas não a um, mas a dois adversários – K Yalá e ao seu aliado Bubo Na Tchute. Indjai não é nome do gentílico balanta; é de extracção muçulmana – religião que ele não segue. Foi-lhe dado, e ficou, na casa mandinga (ou beafada) para onde foi levado pelos seus progenitores balantas, estes sim, e onde foi educado.

Nunca ningém deu por ele até Tagma Na Waie, seu tio, lhe ter confiado o comando do Batalhão de Mansoa, promovendo-o para tal a Maj. O pilar da força do Exército é o Batalhão de Mansoa; fazer dele comandante significicava ter alguém de confiança numa função crítica. Mas depressa o novo comandante passou a ter a importância acrescida de “os olhos e os ouvis de Tagma”, ao qual revelava indefectível lealdade. Ainda hoje corre o rumor de que o assassinato de Nino Vieira, terá sido uma vingança com que o protector de Tagma Na Waie fez valer a sua honra.

Há uma relação directa entre o anonimato da sua pessoa, até Tagma Na Waie o ter “promovido”, e aquilo que é a sua modesta folha de serviços anterior: oficial subalterno (alferes, oriundo da classe de sargentos) do Batalhão da Guarda Presidencial, onde foi colocado pelo seu então comandante, Brig Ansumane Mané: após a queda de Nino Vieira, já feito capitão, foi nomeado 2º comandante do Batalhão de Quínara. A confiança que parece merecer da parte dos senegaleses parece que vem de uma faceta do seu comando do Batalhão de Mansoa: a eficicácia das suas operações de perseguição, no N da Guiné-Bissau, contra guerrilheiros independebntistras de Casamansa e suas bases de refúgio. Foi a operação “Barraca Mandioca”.

Diz-se em Bissau que Bubo Na Tchute está pobre. Tem à venda uma casa inacabada perto de Bissalanca e terá mesmo vendido o seu carro de estimação – um vistoso Audi amarelo. O CEMG, porém, exibe prosperidade. Uma ponta em Amedalai (AM 622), perto de Jugudul, que à noite chama a atenção pela sua feérica iluminação, mais três vivendas no Enterramento, arredores de Bissau, numa das quais terá aplicado um generoso donativo angolano. AM