sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O PAIGC e o futuro da Guiné-Bissau


A Campanha para a liderança do PAIGC está ao rubro e eu estou a acompanhá-la a par e passo. Este meu interesse face as movimentações em torno do Partido de Amílcar Cabral tem como único e exclusivo propósito, cumprir um dever de cidadania, face ao mais que evidente: as decisões tomadas no seu Congresso acabam, impreterivelmente, por se transbordar e inundar toda a sociedade guineense.
 
Seria muito ousado da minha parte, mencionar as qualidades humanas ou o perfil político de alguns dos possíveis candidatos, porque não os conheço, nunca tive oportunidade de privar com eles, não conheço os seus Programas e as respectivas equipas, nem consigo avaliar devidamente as suas capacidades, por nunca terem antes dirigido um Governo de um País tão caótico como o nosso ou um Partido com a dimensão do PAIGC, que podemos e muito bem, considerar um Estado dentro do Estado, a avaliar pela abrangência da sua estrutura no País. Estes factos fazem com que o próximo Congresso deste Partido esteja a suscitar tanto interesse e tanta agitação por parte de cidadãos comuns, como eu, sem qualquer vínculo político e portanto desprovidos das ferramentas necessárias para influenciar decisões, cujas consequências são, infelizmente, partilhadas por todos, sem excepção.
 
Por conseguinte, as minhas considerações dizem respeito, exclusivamente aos demarches que os prováveis candidatos estão a fazer nesta fase de preparação do terreno, para o lançamento oficial das respectivas candidaturas. Entretanto, com a vossa permissão, vou abrir uma excepção e claro, fazer algumas considerações, imprescindíveis, do meu ponto de vista, relativamente à algumas personalidades (gostaria no entanto que ficasse claro que estou a falar de uma opinião puramente pessoal e que vale o que vale):
 
Carlos Gomes Júnior – devia abandonar esta corrida à liderança do Partido, respeitar a suprema vontade do seu povo, expressa nos resultados da 1ª Volta das Eleições Presidenciais antecipadas de 18 de Março de 2012, que demonstraram de forma inequívoca que o quer no exercício da Mais Alta Magistratura da Nação, ou seja, preparar-se para as futuras Eleições Presidenciais.
 
Domingos Simões Pereira – O timing não é propício para assumir o Poder na Guiné-Bissau. Dotado de uma mente brilhante e de quase todos os requisitos de um estadista moderno, teria necessariamente que fazer opções nada fáceis:
 
a) Manter-se fiel aos seus princípios, excluindo quaisquer hipóteses de coabitar com os Poderes constituídos à margem da legalidade constitucional, admitindo por conseguinte estarem criadas as premissas para a violência e a instabilidade;
 
b) Renunciar aos seus princípios, acatar as regras do jogo, impostas pelos detentores do monopólio do uso da força, decepcionando tudo e todos, sobretudo os que acreditam profundamente na sua capacidade de elevar o exercício político á outras dimensões. Com as condições existentes no terreno, seria quase impossível à DSP manter a sua firmeza de princípios e dirigir o País num clima de Paz e de entendimento mútuo com os diversos grupos de interesses instalados, sem correr o grande risco de fazer cedências “absurdas”, do ponto de vista da moral e da ética política, tendo em conta os interesses nacionais.
 
Este raciocínio não persegue a intenção de desencorajar quem quer que fosse (quem conhece CGJ e DSP, sabe, e bem, que não são estas palavras que os farão desistir das suas candidaturas, mas…), tem apenas a ver com a ideia que eu faço do exercício do Poder Político: Na minha óptica, o mais importante é o contexto em que projecto político é implementado. Ou seja, sempre que um projecto político se encaixe num determinado contexto social, tendo em conta as condições existentes e as necessidades mais prementes, estamos perante um caso de sucesso, sobretudo se a liderança desse projecto se encontra moldado para fazer face às adversidades e as imprevisibilidades que necessariamente acompanharão o percurso da sua implementação, sem se suicidar politicamente. Neste caso, consideramos que estamos perante o HOMEM DO MOMENTO.
 
Antes de tudo, convém recordarmos que foram 15 anos de desleixo (de nha boca ka s`ta lá), 15 anos de vazio do Poder, que os mais pragmáticos aproveitaram para se organizar em grupos que hoje detém o Poder real na Guiné-Bissau. Foram 15 anos que puseram a nu as nossas fragilidades como povo, demonstrando que afinal a tão proclamada unidade, forjada na Luta de libertação Nacional e que esteve na base de uma das mais belas epopeias libertadoras do nosso continente, não passa de um mito, porque afinal, continuamos a ser fundamentalmente beafadas, papéis, manjacos, balantas, fulas, oíncas, Felupes, Bijagós, etc. e o Bilhete de Identidade continua a ser o único vínculo que nos une.
 
Foram sem dúvida 15 anos para esquecer, mas que no final de contas constituem apenas uma extensão dos 18 que lhe precederam e que, contando com a preciosa colaboração da nossa precária mentalidade, atiraram o nosso País para a labareda infernal da pobreza absoluta.
 
Nesta complexa teia de relações estabelecidas em bases nem sempre descortináveis e perceptíveis do ponto de vista da lógica humana, relações essas que, entretanto, se assentam em poderes que, não obstante a sua ilegalidade, assumem a dimensão de Estado, ou pelo menos de uma “Força Político-Militar determinante de tudo e mais alguma coisa”, surge uma luz ao fundo do túnel – Braima Camará, vulgo Bá Quecutó, que para mim, é o HOMEM DO MOMENTO.
 
Em virtude da enorme diversidade de responsabilidades de carácter económico e sociopolítico que já assumiu ao longo da sua vida e que lhe valeram reconhecimento e admiração além fronteiras, Braima Camará aprendeu a dialogar com todos os extractos sociais do nosso País, factor imprescindível para que possamos levar a cabo as importantes reformas do Estado. Ou seja, nas qualidades de Membro do Bureau Político do PAIGC, Presidente da Câmara do Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços da Guiné-Bissau, Vice-Presidente da Camâra do Comercio da CPLP, Presidente do Conselho da Administração do Grupo Malaika, Conselheiro do Presidente João Bernardo Vieira e posteriormente Conselheiro do Presidente Malam Bacai Sanhá, este jovem acumulou valências e cultivou relações privilegiadas que constituem uma importante mais-valia para a resolução dos problemas do PAIGC e do País no seu todo.
 
Antes de manifestar a sua legítima pretensão de liderar o Partido de Amílcar Cabral, Braima Camará planeou minuciosamente a sua agenda política, estabelecendo alianças impulsionadoras dessa mesma pretensão, rejeitando compromissos e responsabilidades para os quais ainda não se sentia devidamente preparado e que não lhe auguravam o ambicionado sucesso, repudiando todas as tentativas do seu envolvimento no submundo da ilegalidade constitucional ou de violações dos princípios estatutários do seu Partido. E o mais impressionante foi o facto de ter conseguido fazer toda esta complexa trajectória política, sem provocar ódios nem crispações.
 
Perante a realidade objectiva do País em que se impõe privilegiar o diálogo franco, inclusivo, humilde e abrangente, para garantir uma governação tranquila, com base num clima de confiança mútua entre os diferentes grupos de interesses instalados e não adiar mais uma vez a Guiné-Bissau, é imperioso reconhecer que Braima Camará é o Homem Certo, o Lider ideal para lidar com as adversidades do momento.
 
Estou convicto de que paulatinamente, o cepticismo e as conclusões precipitadas que inicialmente envolviam a sua figura vão cedendo lugar ao pragmatismo e a uma visão mais realista do que realmente está em jogo. E por conseguinte, o reconhecimento das suas qualidades e faculdades para liderar um projecto tão ambicioso e numa conjuntura tão inóspita será uma questão de tempo, como ficou demonstrado nas últimas reuniões do Comité Central e do Bureau Político do PAIGC, em que foi aclamado por ovação.
 
Mesmo as acusações que lhe dão como “candidato dos militares”, ou ainda “menino bonito do General António Injai”, são salutares, porque demonstram a sua disponibilidade de conversar com toda a gente, desde que seja para encontrar soluções duradoiras para os problemas que preocupam a mente e o coração do nosso povo.
 
Neste momento a Guiné-Bissau não precisa de uma varinha mágica, ou seja, de alguém que sabe tudo e que faz tudo sozinho, mas sim de um Líder capaz de falar exaustivamente com toda a gente, juntar toda a gente e pôr toda a gente a trabalhar para arrumar a casa.
 
Nota de rodapé: Basta de demagogias! Basta de conversa fiada! Na nossa Guiné-Bissau, o sucesso de qualquer governação, está dependente do grau de entendimento entre as principais forças políticas, de um lado e entre estes e as Forças Armadas.
 
Lisboa, 17 de Janeiro de 2013
 
POERA DJÚ