segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O PAIGC vai mesmo às urnas


Anunciado que fora o mês em que se prevê a realização de mais um Congresso Ordinário do Partido Africano para a independência da Guiné e Cabo Verde (para os que ainda não sabiam, a realização do VIII Congresso do PAIGC está previsto para o próximo mês de Maio, em Cacheu, se até essa altura ninguém se lembrar de organizar mais um golpe de disparate, já que na Guiné-Bissau não existe um Estado de Facto), parece estarem ultrapassados os pessimismos e todas as demais calamidades emergidas dos trágicos acontecimentos do passado 12 de Abril de 2012 – “memória curta não faz história”.
 
Sempre que os militantes do PAIGC vão às urnas para eleger os seus Dirigentes, denota-se muita ansiedade na atmosfera sociopolítica da Guiné-Bissau, o País acorda, se mexe, se agita, se envolve, deixando transparecer que se vive um momento especial, único, de esperança, impacientemente aguardado por todos (pelos que esperam dele um milagre que acabe de vez com os males que afectam a nossa sociedade de um lado, e os que apostam toda a sua energia, recorrendo inclusive à violência para impedir que as suas Resoluções sejam implementadas com sucesso).
 
O mais importante é que ninguém fica indiferente á este momento que começou há 49 anos em Cassacá e converteu-se num momento de peregrinação histórica para o nosso Povo. Um momento que justifica a longa espera de quatro anos de decepções e desilusões cíclicas, sempre na esperança de que as Resoluções de um novo Congresso corrigirá os erros derivados dos desvios e das arbitrariedades verificados durante a implementação das Resoluções do Congresso anterior – dizem que a esperança é o último a morrer.
 
A relação de Amor e Ódio entre o nosso Povo e o PAIGC já deu provas da sua solidez no passado e promete continuar a resistir às adversidades e intempéries do nosso tempo e do futuro: Se por um lado o Partido de Amílcar Cabral é considerado o causador de todos os males da nossa sociedade, por outro, é o predilecto do povo, o seu suporte, a sua grande esperança na construção da sociedade do seu sonho. A própria expressão “Partido” constitui uma referência exclusiva ao PAIGC, como se estivéssemos a negar esse estatuto às outras formações políticas.
 
As movimentações dos Candidatos, as movimentações em torno dos Candidatos, as promessas que nunca passarão de simples promessas, as intrigas e as fofocas, com os “chibos” e os “infiltrados” à passarem informações de umas candidaturas á outras, com as crispações a aumentarem gradualmente, a medida que se aproxima a data do Congresso e os favoritos se destacam de entre o grosso do pelotão, vendo desmoronar o sonho dos offsiders e seus apoiantes – é a democracia em acção (Viva a Democracia!).
 
De todos os Congressos que já assisti, estou convicto que este estará certamente imbuído de um perfume especial, em virtude do momento histórico em que terá lugar, das expectativas que está a criar e do enorme secretismo que o envolve, relativamente as verdadeiras motivações dos candidatos e das alianças que foram e estão a ser estabelecidas nos bastidores. Ninguém quer abrir o jogo, porque qualquer deslize pode ser fatal – o segredo é a alma do negócio.
 
O momento histórico é do tudo ou nada para o PAIGC. O partido de Abel Djassy é obrigado a ganhar as próximas Eleições Gerais, para assegurar a sua continuidade, pelo que este Congresso terá direito a um lugar na história, com os Candidatos a desabrocharem em currículos fantásticos, que infelizmente contrastam profundamente com as suas realizações, a julgar pelo estado depauperado em que se encontra o nosso País. Candidatos que nunca deixaram de trabalhar, inclusive em fóruns e organizações internacionais, sem contudo deixar um rasto marcante da sua passagem pelo País que os viu nascer, crescer e fazer-se homens e que dizem estar a servir.
 
Reconheço no currículo uma sequência de registos que testemunham a nossa presença em determinados sítios, eventos, acontecimentos, ou mesmo a nossa participação em determinados actos ou processos, e que entretanto não garante automaticamente que essa presença ou participação nos proporcionaram novas valências ou qualificações. Além disso, um currículo, pela sua essência, se vincula sempre ao nosso passado, por isso, sempre que nos vemos na necessidade de o exibir como triunfo, convêm fazê-lo não no sentido de obter determinadas vantagens na disputa por um lugar mais relevante para enriquecer ainda mais esse mesmo currículo sem fazer nada, valendo-se do que já fizemos no passado, porque cada caso é um caso e não estamos a falar do exercício de funções outrora por nós desempenhadas, mas sim, como premissa para explicar o que é que pensamos fazer no futuro, tendo em conta as aptidões adquiridas no passado, e não mais do que isso, porque as funções são diferentes, os contextos são diferentes, as pessoas que nos acompanham nessa nova aventura são diferentes, por outras palavras, não tem nada a ver.
 
Um exemplo evidente desta analise que não pretende referir ou prejudicar qualquer dos candidatos, é um caso chamado Carlos Gomes Júnior, que dentre todos os Presidentes do PAIGC e todos os Primeiros-ministros da Guiné-Bissau, deve ser aquele que tem o currículo mais pobre, mas que entretanto foi de longe o melhor Primeiro-Ministro que o País teve durante toda a sua história.
 
Dentre os actuais candidatos, Braima Camará (Bá Quecutó) deve ser o mais pobre em currículo (se calhar nem tem currículo, a avaliar pelo que os outros pensam apresentar), mas também é o único com provas dadas, o que significa que, em termos de realizações de concretos projectos e empreendimentos no País, não tem comparação possível (se eu estivesse no lugar dele, em vez de um currículo, apresentava uma exposição da minha obra e desafiava os outros a fazer o mesmo).
 
Na minha óptica, os Candidatos deviam centrar-se exclusivamente no futuro, nas suas receitas para os problemas que afectam o Partido e o País, porque é realmente difícil compreender que temos cidadãos, cujos currículos ilustram que fizeram muito mais do que Nelson Mandela, Eduardo dos Santos e Martin Luther King juntos e que depois de 40 anos de independência, continuamos a viver no País mais pobre, mais desorganizado e mais caótico do Mundo, sem Luz, sem Água Potável e sem Saneamento Básico – é uma vergonha.
Vamos ser francos e reconhecer de uma vez por todas que no nosso País o currículo vale o que vale, porque não mexe com as sensibilidades e nem é por isso que somos ou seremos mais ou menos respeitados e considerados no Mundo fora.
 
Num País onde a própria carreira é feita, paradoxalmente, de cima para baixo: Primeiro lutamos freneticamente para ser Presidentes da República para depois nos convertermos em simples imigrantes num País Árabe qualquer; Queremos ser Primeiros-Ministros de Transição só para termos um currículo que nos permita mais tarde ser Presidentes de Câmara num outro Governo de Transição; Lembrem-se do Primeiro-Ministro do Governo que tinha uma serpente que engolia dinheiro do erário público? Hoje é Ministro dos Negócios Estrangeiros de transição; investimos o nosso melhor enquanto Presidentes da República de Transição, só para termos currículo e estatuto que nos permitam ser membros de pleno direito de um bando de golpistas, etc. etc.
 
Esta obsessão pelo currículo, constitui uma das causas de instabilidade no nosso País, com jovens Quadros a apoiarem golpes de Estado e a se disponibilizarem para integrar governos de transição; de unidade nacional; de unidade internacional com o Senegal e demais Países que queiram desestabilizar o nosso País; de iniciativa presidencial; de ilegalidade constitucional; de disparate e desgraça nacional; de incompetência, descaramento e pouca vergonha nacional e internacional; mesmo que seja só por um dia, etc. Tudo serve para coleccionar currículos e exigir depois tratamentos excepcionais na hora de lutar por um “TACHO” mais lucrativo.
 
Faço votos para que este Congresso (o VIII Congresso do PAIGC) tenha lugar na data marcada e que decorra num ambiente de harmonia e de responsabilidade para com o futuro do País.
 
Desafio os seus delegados à votarem em prol do Candidato que já deu provas de ser capaz de executar projectos muito ousados e de enorme utilidade para o nosso País.
 
Aos candidatos que passaram a vida a coleccionar currículos, quero dizer que chegou a hora de mostrar serviço, fazendo algo de palpável para convencer o nosso povo de que também são capazes e mostrar ao Mundo que o guineense está preparado par fazer parte da solução dos problemas que afectam a Humanidade, começando por arrumar a nossa própria casa.
 
Rui Manuel Djassi