quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Boka iam, só sim sinhor


«Caro Aly,

Sou emigrante e estes dias estive na Guiné-Bissau, meu pais natal. Depois de Dakar, entrei pela fronteira terrestre afim de visitar familiares. Nessa viagem, assisti a esta cena que muito me tocou e que te passo a relatar.

Na semana passada, mais precisamente no dia 19 do corrente na fronteira de Pirada, entre a Guiné-Bissau e o Senegal assisti a chegada nesse posto fronteiriço de uma coluna militar proveniente do Senegal composta de um enormíssimo camião, vulgo "tir ou remorco" com três plataformas. O referido camião, posso afirmar pela constatação discreta que fiz, estava seguramente carregado de material bélico e, ao que parece, pelo que me permitiu aperceber através da cobertura de resguarda, para além de armas e munições acondicionadas em contentores militares devidamente assinaladas e, pela silhueta do material coberto estavam la igualmente dois tanques blindados de lagartas (estes se viam por baixo, pois estavam mal dissimuladas pelos toldos da cobertura) e... com canhões de longo alcance. A coluna militar vinha escoltada por duas viaturas todo-o-terreno marca toyota pick-up do exercito senegalês guarnecido de quase uma vintena de militares bem armados.

A coluna chegou, parou, sem parar os motores mantendo os a/c ligados. Alguns militares desceram das suas viaturas (decerto para relaxar as pernas) e, descontraidamente, uns fumavam, outros bebiam agua mineral «Kirene» e, outros limitavam a olhar para o nada. Nesse exercício descontraído, os militares senegaleses, não se dignaram a dirigir qualquer palavra as nossas supostas «autoridades fronteiriças nacionais», não perguntaram por "ninguém", não prestaram qualquer atenção aos nossos, em suma deram cavaco algum à ninguém. Falavam entre si em "wollof" e mantinham o profil en garde.

Aos nossos pobres militares, guardas fronteiras e guarda nacional estacionadas nesse posto fronteiriço, não mais restava que os seus olhos, para olhar e ficar calado..., bem caladinho (colonização obligé).

Porém, o engraçado em tudo isto veio depois. Quiça num assomo de zelo, alguns desses militares se atreveram a esboçar algumas perguntas e tentar aproximar-se da misteriosa carga (um deles, ao que se me deu a atender, é um tal Tiburcio da GN), foi o que viu..., foram literalmente escorraçados com um gesto autoritario de mãos que os mandavam afastar-se da coluna, gestos esses, a fazer lembrar os celebres «retourné» das tropas invasoras senegalesas aquando da guerra de 7 de junho de ma memoria para o ego dos Djambars (nos chamávamos-lhes os «Djambas»- pequenas aves frágeis e migratórias que em tempos, após as chuvas invadiam os campos e savanas guineenses).

E, foi pena de ver, os pobres militares, rabo entre as pernas « retourner » para a pachorra da vida, sem deixar de resmungar para dentro com eles mesmos : «agora e assim com a ECOMIG, é como a "coisa" da Joana, chegam e passam sem nada dizer a ninguém. Não apresentam nada, nem conhecimento de carga, nada de nada... e ninguém sabe o que trazem la dentro. Com a MISSANG era o fim do mundo, revistava-se tudo minuciosamente, desconfiavam de tudo...punham-nos numa autentica paranoia de segurança.

De tudo isto, tiro uma conclusão, a ECOMIG não tem meras intenções de contenção na Guiné-Bissau.

Estão a preparar algo de concreto e, de muito importante.

Ao nosso apatetado General koba mal, deixo-lhe um conselho : que se cuide, pois a jiboia está-lhe a fazer o seu anel.

Baciro Baldé

Emigrante
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