sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Masturbar , ou não - eis a questão



MASTURBO, NÃO MASTURBO…

In: SIMINTERA

Escrevo, não escrevo, escrevo, não escrevo, escrevo, não escrevo, masturbo, não masturbo, masturbo, não masturbo, masturbo, não masturbo…

Como guineense, orgulhoso da sua origem, até não ia escrever, pela vergonha que o caso dos “74 sírios” me causa, mas acabei por escrever (sem masturbar, julgo eu) e publicar, porque as barbaridades são para serem combatidas de forma incansável, enquanto existirem pessoas a cometê-las e outras a defendê-las.

A notícia desta semana em Portugal, que ainda hoje faz abertura de alguns telejornais, envolveu, MAIS UMA VEZ DE FORMA VERGONHOSA, a Guiné-Bissau e feriu de morte o orgulho de todos os guineenses de bem.

Para falar verdade, entre os guineenses, já não sei quem é quem, quem é de bem e quem é de mal e quem pretende o bem ou o mal da Guiné-Bissau!

Que os golpistas militares e “transicionistas” guineenses não tenham sensatez, nem vergonha na cara, e que só lhes interessa as negociatas para proveito próprio, venham eles de qualquer tipo de tráfico, já todos sabemos. Agora, que este incidente ou prática grave e vergonhosa, facilitada por supostos dirigentes guineenses, que envolveu o trânsito de vítimas de uma guerra, exploradas por uma rede ilegal de malfeitores, pondo em causa a segurança internacional, tendo a Guiné-Bissau como a placa de lançamento para o espaço Schengen, seja aproveitada por guineenses, para criar cisões entre guineenses, é intolerável e roça o limiar da baixeza…

Todos os guineenses, com excepção dos criminosos que hoje se dizem dirigentes da nossa pátria, deviam ficar preocupados e até horrorizados, com o estado actual do nosso país, sendo que este incidente ou prática, só pode significar que a nossa pátria amada é hoje usada para a prática de todos os tipos de actividades que se relacionam com o submundo do crime organizado, com conluio dos próprios filhos da Guiné-Bissau…

No alto da sapiência virtual guineense, interpreta-se mal e porcamente, e não se hesita em misturar aquilo que é a denúncia de uma ilegalidade estritamente administrativa (falsificações de passaportes e vistos) potencialmente ligada a redes de narcoterrorismo e a insegurança internacional, com aquilo que é a segurança da aviação civil e a segurança durante um único voo.

Para já, a segurança para a aviação civil deve ser garantida pelo país contratante do serviço, ou seja, aquele que fornece o seu aeroporto para aterragem dos aviões. É isso que a TAP espera e reclama das supostas autoridades guineenses (que na prática não existem, desde Abril de 2012), e é isso que levou a suspenderem os voos para a Guiné-Bissau, até verem resolvida a questão da segurança da aviação civil.

O argumento, usado pelos golpistas e seus acólitos, de que nem toda a gente com farda é militar, não cola neste assunto em particular, uma vez que se trata de uma área que deva ser estritamente controlada pela autoridade local. Neste caso em particular, já se sabe que a ordem de embarque desses Sírios foi dada por um alto funcionário do suposto estado guineense, acompanhado de criminosos fardados. Também já se sabe que foi esse acto que levou à demissão do suposto Ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau.

Portanto, a suposta autoridade guineense (que no fundo não existe, já que são criminosos travestidos de autoridades), não só facilitou a prática ilegal, como coagiu os responsáveis do voo a executarem essa ilegalidade, o que poderia repercutir na segurança do voo ou posteriormente na segurança dos cidadãos residentes no espaço Schengen. Em nenhuma altura o comandante de bordo detectou qualquer acto que pudesse colocar em perigo aquele voo concretamente, por isso não agiu conforme mandam as normas de segurança do voo… Limitou-se a deixar que os agentes de controlo das fronteiras (SEF) fizessem o seu serviço… É disso que se trata. Saber ler não é o mesmo que saber interpretar… É a velha questão da literacia funcional!

Outro exercício da iliteracia funcional, que não sei se é intencional ou não, é tentar colar a autoridade consular portuguesa residente na Guiné-Bissau a este caso, quando a notícia veiculada, inclusive no artigo do jornal “Expresso”, é claro a fazer referência à “PASSAPORTES E VISTOS FALSOS”. Aliás, o antepenúltimo parágrafo do artigo do “Expresso”, diz o seguinte:

Só entre janeiro e outubro, o SEF interceptou 173 pessoas provenientes da Guiné-Bissau portadoras de PASSAPORTES E VISTOS FALSOS. É um aumento de 90% em relação a 2012.

Portanto, não são passaportes nem vistos passados pela autoridade consular portuguesa sediada na Guiné-Bissau!

Ainda, no parágrafo anterior e no subsequente do mesmo artigo, lemos o seguinte:

As redes turcas de imigração clandestina para vários países europeus movimentam milhões de dólares por ano e têm ramificações na capital guineense.

Várias fontes policiais e diplomáticas garantem que estas redes se confundem , e negoceiam, com as que se dedicam com o tráfico de droga por toda a África Ocidental.

As redes que auxiliaram estes cidadãos em Bissau estão ligadas ao tráfico de estupefacientes, principalmente de cocaína.

Estes sim, são dados que me interessam e preocupam como guineense e que devem preocupar a todos os guineenses de bem, sem excepção. O resto é secundário. O resto é encher páginas, ou melhor, aquilo que os portugueses chamam de “encher chouriços” e que eu chamo de “masturbação intelectual”.

Chega a roçar o delírio persecutório, quando se tenta arranjar “bodes expiatórios” para todas as asneiras cometidas por impreparados que assaltaram o aparelho de estado guineense!

Estes dados não é nada mais que um indício claro do estado em que está mergulhada a nossa pátria e que resgatá-la das mãos do crime organizado está a tornar-se cada vez mais difícil e, sem uma ajuda internacional séria e desinteressada (o que é uma miragem!) e o empenho de todos os guineenses de bem, arrisco a dizer que é uma tarefa inglória ou até impossível.

A realidade é nua e crua, não existe neste momento um verdadeiro estado na Guiné-Bissau. O território guineense e o seu povo estão tomados por redes criminosas, facilitadas por supostos dirigentes políticos e agentes da lei, em que o único interesse nem chega a ser o enriquecimento ilícito, já que o que sobra para esses agentes guineenses facilitadores dessas actividades ilegais, são umas migalhas que dá para ser usada como um “lago dourado”, no oceano da miséria que é o país…

Entrando na linha do meu anterior artigo, volto a manifestar a minha extrema preocupação com o défice democrático e político dos vários candidatos que se alinham para as próximas eleições guineenses!

Um candidato à liderança do que quer que seja, quanto mais de um país, deve partir para a disputa desse cargo com o espírito de quem pretende colocar às suas capacidades ao serviço daqueles a quem pretende dirigir ou orientar. Deve conhecer ou tentar conhecer profundamente aquilo que pretende vir a dirigir, para poder transmitir aos seus eleitores, aquilo que pretende mudar quando for eleito. Esse exercício não deve ser feito só durante a campanha eleitoral! Quem quer assumir o papel de líder político, deve saber que tem de estar a altura de intervir, sempre que as circunstâncias do quotidiano justificarem, principalmente quando está em causa assuntos que lesam profundamente o país e o povo!

O povo guineense anseia por políticos com coragem e determinação de Amilcar Cabral, Mahatma Gandhi, Mandela, entre outros. Necessitamos de uma outra revolução na Guiné-Bissau, feita, desta vez, por democratas, sem necessidade de recurso à luta armada.

O povo guineense anseia por democratas que usem da voz e da escrita para combater os criminosos que lhe mantém refém. O povo guineense não precisa de discursos de ocasião, carregados de chavões, proferidos por homens com fatos reluzentes e gravatas alinhadas, com currículos ditos brilhantes. O povo guineense precisa de políticos com “P grande”, que sabem apontar o dedo aos desvios dos interesses do Estado e que também sabem apontar soluções e saídas para o estado moribundo em que se encontra o país.

Cabral, no decurso de uma luta armada que contava vencer, já desenhava caminhos para o desenvolvimento nacional após a libertação do país. Os nossos actuais políticos pretendentes á liderança do país, não são capazes sequer de fazer uma abordagem pública, incisiva e clara dos factos actuais relevantes!

No aproximar de Março de 2014, este (entre outros) é mais um dos graves acontecimentos que morrerão no silêncio daqueles que dizem ser candidatos a líderes da Guiné-Bissau! Com que interesses!?

Se os nossos democratas ou pseudo-democratas não saberem juntar as vozes, para denunciarem os criminosos e solicitarem ajuda internacional para combate-los, jamais sairemos do atoleiro onde nos encontramos.

Será que vou morrer sem ver outro Amilcar Cabral na Guiné-Bissau?

Jorge Herbert