quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

CADOGO PRESIDENCIAIS (2): Gomes Júnior assume candidatura presidencial e aguarda por garantias de segurança para regressar à Guiné-Bissau


Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro guineense deposto em 2012, garantiu hoje que será candidato presidencial nas eleições previstas para março próximo e que aguarda por garantias de segurança da ONU e do Governo de Transição para regressar à Guiné-Bissau.

Numa entrevista conjunta à RTP África e à agência Lusa na Cidade da Praia, onde reside atualmente, Carlos Gomes Júnior afirmou que um seu antigo ministro, Botche Candé, será o diretor de campanha, que falta acordar o nome do seu mandatário e que, porém, receia o adiamento das eleições.

“Estamos preocupados com o cenário que se passa na Guiné-Bissau”, afirmou o também, oficialmente, presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), ao justificar a carta enviada recentemente ao secretário-geral da ONU e aos presidentes das comissões das uniões Europeia (UE) e Africana (UA).

“O recenseamento ainda está a decorrer. Já chamei a atenção às Nações Unidas que não basta só marcar eleições. Há questões prévias que têm de ser discutidas com frontalidade se quisermos eleições credíveis, livres, justas e inclusivas, pois há um cenário em que o povo não se pode manifestar, a imprensa não é livre e os políticos estão a ser presos, perseguidos, espancados e até mortos”, afirmou.

Carlos Gomes Júnior, afastado do poder no golpe de Estado de 12 de abril de 2012, insistiu na ideia de se criar um “tribunal ad-hoc” na Guiné-Bissau para julgar “todas as barbaridades e trazer à justiça os crimes que ultimamente têm acontecido” no país para pôr cobro à impunidade.

Sobre as presidenciais, cujo processo de candidatura está a ser preparado por juristas do PAIGC, Carlos Gomes Júnior lembrou que, em 2012, tinha vencido a primeira voltas das eleições e que se preparava para a segunda-feira quando o processo foi interrompido com o golpe de Estado.

“Estou à espera da segunda volta das presidenciais, que ganhei com toda a transparência. Essas eleições foram validadas pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Guiné-Bissau e foram reconhecidas pela comunidade internacional como sendo livres, justas e transparentes”, reivindicou, esclarecendo, porém, as razões que o levam a recandidatar-se.

“Não tenho problema em ir às urnas. Fala-se de que ganhei as eleições e que agora tenho medo de ir às urnas. Não, de forma nenhuma. Nã quero é ser um obstáculo ao desenvolvimento do país. Para não criar um clima de instabilidade no país, aceitei ir de novo às eleições, se bem que não tenha adversários como tive em 2012”, explicou.

Para Carlos Gomes Júnior, adiar as eleições é adiar, de novo, a Guiné-Bissau. “Até quando vamos continuar com o Governo de Transição. Quantos projetos foram adiados ou inviabilizados porque os parceiros não têm confiança? É necessário que os políticos se sentem à mesa e que discutam o que querem para a Guiné-Bissau. Após 40 anos de independência, não podemos continuar com um país adiado”, disse.

Questionado sobre quando pensa regressar a Bissau, Carlos Gomes Júnior afirmou que “tudo depende da vontade política do próprio Governo de transição” e das garantias que as Nações Unidas têm de dar, a si e aos eleitores. “(Garantias) não só de segurança ao cidadão Carlos Gomes Júnior, mas também para os eleitores e cidadãos guineenses. Não quero uma segurança exclusiva para mim. O problema é que, num Estado de Direito, não se pode estar a governar um país desta forma”, respondeu.

“Se pensarmos que a comunidade internacional vai desembolsar 20 milhões de dólares para a realização de mais umas eleições, elas têm de ser credíveis. Não sendo credíveis, terá de rever como vão ser controladas. A ONU tem de enviar uma força de interposição para as controlar e para garantir a segurança da população, para que possa votar livremente. Se não votar livremente e em consciência, não vejo a necessidade de fazer uma eleição atabalhoada como estamos a fazer”, concluiu. LUSA